Does it make any sense?! No? So, welcome.
19
Mar 09
publicado por Andi, às 13:56link do post | comentar | ver comentários (4)

Passsava calmamente no corredor da faculdade. As suas pernas deslizavam uma após outra, ok, raio de escrita, enfim, apenas quero fazer sobressair que ele andava calmamente, mas não se assustem ele só tem duas pernas. Continuando, passava no corredor da escola um tanto ou quanto cheio, cotoveladas, pontapés, acidentais, esperava ele, e calor humano. Demasiado calor humano, demasiada intimidade estar a sentir o calor de alguém que não se conhece, pior que não se reconhece como semelhante, não tinha outro remédio senão respirar os outros, passar entre os outros, ter de conviver, não conviver, conviver não, não é esta a palavra, apenas estar ao pé dos outros, ter de falar com eles quando as situações a isso obrigavam... Enfim, os Outros.


Estes pensamentos perpassavam-lhe a mente, ou a minha, enquanto ele passava, sim, ele continua a passar. Interessante como na escrita podemos definir um momento simples e fugaz como quase persistente, eterno, ah! éfemeras ilusões!.


Iria ter outra aula, desta vez numa sala mais pequena, mas ainda teria um intervalo de meia hora, e já no bar da escola, perguntava-se onde iria ficar durante este tempo todo. Não queria ficar ali, obviamente, nem iria esperar à porta da sala. A solução pareceu-lhe ir até à rua e vaguear nas ruas estreitas e sujas daquela cidade minúscula, mas surpreendentemente sobrepovoada e arrogante, onde os seus sítios preferidos eram os mais escuros, sujos e húmidos. Sim não deixava de ser um réptil humanizado, repelente e nojento para algumas pessoas, assustador para outras, isto para aquelas que o consideravam um réptil digno de tais sentimentos, na maioria das vezes era simplesmente um ponto negro na selva amazónica da cidade e da escola.

 

Ok, se calhar estava a exagerar, mas que importava isso, era assim que era a sua situação naquele momento, melhor era como ele a via, a projectava, como se ele fosse um expectador alheio a todo um filme estúpido cujo orçamento não passasse algumas centenas de euros. Assim sendo, continuou a passar naquelas ruas sujas e lamacentas até que se encontrou numa extremidade da cidade. Nunca antes lá havia estado. Eram três da tarde, provavelmente, e o sol batia-lhe  nos olhos, o cabrão, queria ver o que lá havia, a sua curiosidade era das suas melhores características, pensava ele. Um ermo ali plantado generosamente na periferia da pequena urbe, tinha algumas plantas infestantes como seria de esperar, mas mais não conseguia visualizar, a sua miopia nem sempre era uma benção... Tirou a mochila das costas para tirar os óculos da sua algibeira.

 

 

 

 

 

 

*

 

 

Estava cheio de lama. E ainda sem os óculos. Não tinha mala, nem carteira, nem nada. E estava de novo à porta da escola, pela posição do sol diria que eram quase sete, ok sabia lá que horas eram, mas gostaria de poder sabê-las ao olhar para o sol. Nem verificou se estava bem ou se estava a ser observado ou o que quer que seja. Apenas sentou-se ali numa soleta de uma porta e limitou-se a ver o anoitecer a chegar.


Alive - Pearl Jam

 

 

Capítulos anteriores:

Miopia

música: Pearl Jam - Alive
sinto-me: ok isto é treta!

18
Dez 08
publicado por Andi, às 23:00link do post | comentar | ver comentários (4)

Abençoada miopia!

 

Estava sentado na parte superior do anfiteatro principal da faculdade, nas fileiras mais afastadas do quadro perto de ardósia, antiquado e preservador dos bons costumes didácticos, assim dizia o reitor da universidade de peito inchado, nos corredores.

 

Estava sentado na parte superior do anfiteatro e nada via. Ainda bem, a sua miopia não o deixava observar claramente o que o professor escrevia no quadro, o que conseguia ver era um emaranhado confuso [emaranhado confuso!] de rabiscos de giz branco, que todos os seus colegas copiavam religiosamente para o caderno, pedaços de sabedoria anciã, dogmática, que constitui um autêntico  testamento obrigatório que todos teriam de fazer, se alguma vez quisessem ser lembrados. Ele, contudo, não passava, não mais.

 

O professor papagueava umas quaisquer leis de um qualquer senhor medieval conhecido, cujo nome não se recorda, e cujo rosto não consegue distinguir de outro qualquer desconhecido também. Teria que saber enunciar essas leias, despejar conhecimentos aos pacotes como se de uma promoção de supermercado se tratasse, conseguir fazer os exercícios na mesma linha (ir)racional com que o professor os resolvia.

 

Trinta minutos para acabar a aula, a quinta numa série de cinco aulas seguidas, apenas intercalada por escassos intervalos, que consistia no tempo decorrido do tráfego de professores, ir e vir, ir e vir, ir e vir...

 

 O tempo arrasta-se, o tempo esquiva-se, contorciona-se, escapasse-nos entre os dedos, contraria-nos, eternamente... Eternamente! Ah, o tempo!! Maldito.

 

Com este arrastar absurdo dos segundos prolongados até um máximo de flexão, sentia uma vontade insana de vomitar, sentia-se mal, todo o seu organismo tendia a rejeitar aquilo tudo, não era natural, era contranatura, anti-evolução! Repudiava esse sistema, essas pessoas, repudiava-os, mas também não conseguia deixar de sentir uma espécie de repulsa por si mesmo por pertencer a esse sistema, por ter que conviver, ainda que minimamente com essas pessoas.

 

Os seus óculos estão na caixa simples azul-escura, a qual tem desde os seus dez anos, desde os seus primeiros óculos ridiculamente alongados e grandes, tinham-lhe oferecido aquela caixa com o seu nome gravado, que é tão ordinário que não vale a pena mencioná-lo aqui, seria desperdiçar o tempo de quem irá ler isto... Irónico, não?

 

Os óculos estavam na sua caixa azul-escura, a caixa está na sua mala apinhada de livros, a sua mala está aos seus pés, e ele está... Não, não quer saber onde está!

 

Mas poderia tirar os óculos, colocá-los diante dos seus olhos míopes, curar-se daquela miopia céptica, poderia ver o que estava no quadro, que, por agora pareciam hieróglifos egípcios, mas poderiam tornar-se inteligíveis, poderia observar o conhecimento puro descrito em ardósia, em pormenor... Poderia...

 

Todos se levantam, a aula acaba. Ele agarra na mala e sai do anfiteatro, ainda sem os óculos.

 

Ainda míope.

música: Lisboa não é a Cidade Perfeita - Deolinda

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