Após passar três dias miseráveis encafuada no seu quarto húmido e, por vezes, tenebroso e só saindo para comer qualquer coisa à cozinha sempre completamente sozinha, pois dispensava e até evitava companhia, Fantasia encontrava-se mais angustiada do que nunca. Precisava de sair dali, julgava-se sufocar num desespero claustrofóbico. Detestava estar enclausurada, e eles sabiam-no!! Sentia-se tremendamente injustiçada!
A porta escura e pesada do seu quarto foi aberta lentamente, como se estivesse impregnada de uma preguiça tal que não quisesse abrir. Fantasia olhou. Era Arminda. Desviou o olhar.
O seu quarto encontrava-se quase vazio à excepção dos seus quadros, colecções e todos os bizarros objectos que encontrava nas suas vagueações. Eram, para ela a única fonte de luz e cor no seu quarto pintado de branco, com uma única janela não muito grande de madeira, mas pintada igualmente de branco. Não dormia ali mais ninguém, ao contrário do que era comum na Instituição, pois todos os seus companheiros de quarto recusavam-se a dormir na mesma divisão que ela. Sentiam-se intimidados com a sua presença, amedrontados, sempre sem saber o que esperar, sem saber qual a sua reacção. Consideravam-na a mais estranha e "atrasada" da Instituição e ela sabia-o, mas esse facto não a alterava minimamente.
Arminda sentou-se na velha poltrona originalmente preta, mas agora, desgastada pelo tempo adquirira um tom baço de cinzento escuro. Pousou as mãos no colo, aclarou a voz e disse:
"Não precisas ficar mais tempo no quarto, o castigo já passou."Ao ver Fantasia mostrar um olhar de esperança acrescentou:
"Essa parte do castigo já passou. Decidimos eu, Alberto e, claro, o Sr. Dr. Fernando que não deverás passar mais tempo no quarto. Vais trabalhar. Não trabalhos muito pesados, claro. Mas, por exemplo pequenas tarefas como cuidar do jardim que bem está a precisar e fazer recados, ou ir ao mercado da aldeia, isto está claro com a devida supervisão. Foi do consentimento de todos que isso seria uma medida para te ensinar alguma disciplina e alguns valores que pareces não ter..."O olhar anterior de esperança desvaneceu-se e deu lugar a um olhar carregado de desconfiança e cautela. Contudo Arminda decidiu ignorá-lo e saiu com tanta cerimónia com quanta havia entrado. Só que, desta vez, Fantasia reparara que a porta fechou-se com mais agilidade, mais depressa do que havia aberto...
Sentou-se na poltrona onde havia poucos instantes Arminda havia estado e perguntou-se sobre a continuação do seu castigo... Não seria pior que estar ali fechada, isso ela sabia. Mas que supervisão estaria ela a falar? Teria que trabalhar muito arduamente? Faria isso o dia inteiro?
Deixou-se divagar nos seus pensamentos e não tardou a noite, bem como o sono, chegaram, então Fantasia dirigiu-se à sua singela cama e foi dormir ainda pensando no que o amanha lhe reservara.