Atirou-se de um penhasco. No céu não se suicidavam, nem havia esse conceito. Mas ele fê-lo. Atormentavam-no. No céu!!! Tão bonito era o céu, cheio de flores, de pseudonarcisos, enormes e amarelos que exalavam um cheiro esquisito, e que supostamente, era bom, mas ele não gostava.
Teve morte instantânea. O sangue vermelho vivo e líquido escorria-lhe das entranhas para os orifícios, uma espécie de tubos que se alargavam, e que faziam o contacto entre a terra e o céu. Misturou-se na atmosfera. E fez-se chuva. Chuva vermelha. Chuva de sangue. Sangue de chuva.
Cá em baixo, no mundo terreno e sem interesse, ela se encontrava já preparada para a chuva, segurando na mão um guarda-chuva. As gotas translúcidas de sangue escorriam pelo guarda-chuva, e respingavam os seus pés. Ela não era ninguém. Não tinha rosto nem expressão. Era preciso?! Era apenas uma ela.
Continuou, ela na sua caminhada. E foi atingida por um raio. Um raio, que poderia ser de sol, um maroto, um curioso, que quisesse sentir alguém intensamente. Neste caso, ela. No entanto, ela morreu, mas continuou viva, e continuou.
Foi julgada pelos seus modos considerados hereges, que nada mais eram do que uma visão ingénua e puritana das coisas, e foi enforcada. Morreu, mas continuou. E conheceu um ele, um outro ele. E ficou grávida. Ele abandonou-a, claro. Nem merece aparecer na história. Ela morreu ao dar à luz. Desta vez morreu mesmo. O equilíbrio natural era mantido dessa forma. A morte dá lugar à vida, e vice-versa.
Mas como nem tudo é perfeito, ou pelo menos nós não o entendemos assim, e a filha nasceu com um defeito, ou uma característica diferente? Uma espécie de corcunda, que que aumentava todos os anos, e que a acabou por esmagar. Morreu.
Mas ao morrer alimentou diversos vermes, e outros necrófagos que acabaram eles próprios por se tornar enormes. É através da morte que se chega ao céu, e foi através da morte dela que os vermes chegaram ao céu, o solo terreno era demasiado pequeno para eles.
Uma vez lá, atormentavam-no. A ele. Ou será que ele é que se deixava atormentar??
"Gostei da tua história."
"Não, é totalmente psicopata"
Os colegas de turma, olhavam para aquela suposta arte rabiscada no tampo da mesa, e da história inventada a partir dela. Será que aconteceu mesmo? Os olhos dele diziam que sim, e eram sinceros, além do mais, sei o que são pseudonarcisos, e só haveria uma forma de o saber....