As pipocas deveriam surgir das ávores. Como por magia, por acaso... Não, por acaso não. Deveria ser propositado. Deveria ser natural e anti-natural, simultaneamente.Cresceriam no seu tempo certo. E apanhariam água até ficarem completamente moles. E esperávamos que viesse o sol para que elas restabelecessem outra vez. E íamos apanhar quando tal acontecesse. Os miúdos traquinas e com os joelhos esfolados iriam de quintal em quintal roubar pipocas ate não poderem enfiar mais uma pipoca minúscula nas suas barrigas. Seria uma espécie de manta de neve que cobriria algumas regiões no Verão.
Todos teriam uma. Nem que fosse na varanda do apartamento atarracado de velharias. E cada uma dela contaria a história dos seus donos, sobrevivendo enquanto eles o fizessem também. E deixávamos de comer pipocas apenas no cinema. Passaríamos a oferecer pipocas a alguém doente em vez dos sumos pastosos e de fruta esquisita cujo nome não conseguiríamos pronunciar correctamente. Nas escolas, os alunos passariam a comprar sandes com compota de pipoca, levemente adoçada.
As paisagens ficariam brancas puras, já que tudo o resto não o é. Não seriam conspurcadas, mas sim inocentes, oferecendo pequenos prazeres simples. Como, sentar calmamente a comer pipocas, aproveitando a companhia silenciosa de alguém. Ou falar das pipocas que nascem das árvores, como são magnificas.
O mundo seria tão melhor com pipocas a crescer nas árvores, não seria?!
(Foto retirada daqui)