Gostava da chuva, mas gostava do sol, adorava o barulha das gotas a pingar de um telhado esverdeado pelo musgo, ping ping, mas também adorava o calor abrasador que fazia as paisagens parecerem de cores mais vivas, de ver os gatos deitados ao sol, as crianças a brincar na rua...
Tinha estado a dormir muito tempo. Tempo demais. Tinha consciência dos sonhos e dos pesadelos que tinha tido, mas agora estava acordada, e não iria dormir outra vez, não, não outra vez!
Queria subir montanhas e descer vales profundos, queria fazer o que queria, mas queria também fazer outras coisas, queria aprender, queria esquecer-se, mas não queria sonhar. Não! Queria correr, rebolar em prados verdejantes, rebolar e arranhar-se na cara e nas pernas e nos braços, correr até ficar a arfar, para depois ir para casa, tomar banho com água quente e sentar-se num lugar confortável, a lamber as suas feridas. Queria viver com os animais, mas queria ser grande entre os Homens. Queria o Inverno e o Verão. Queria ter tempo para isso tudo, queria ser o tempo!
Queria tudo, menos dormir novamente.