Desafiando todas as leis da Física e da Racionalidade, a Gravidade fez-nos o favor de desaparecer. Não existe, simplesmente. Podemos finalmente levantar os nossos pés da terra fria que nos puxava anteriormente. Pés, olhos, pensamento. Foi-nos dada a opção de escolhermos onde queremos ir.
Sento-me agora nas nuvens fofas e brancas. São mais húmidas do que pensaria, o sol aqui tão perto, a visão do minúsculo espaço que antes me pertencia, que feio me parece agora. Saltito de nuvem em nuvem, com sorte passará vento e me levará a outros lugares, para ver outras terras, minúsculas também. Passo por uma zona de nevoeiro e a nuvem se aproxima do antigo centro gravitacional, estou no cume das árvores, penduro-me no seu topo e observo. Aproveito.
Agora apetece-me ir ao fundo do mar. Saber o que lá existe. Decerto encontrarei coisas fascinantes. O problema é que já não existe mais água. Caiu. Só ficou o que estava preso no chão. Desesperadamente preso.
Não se consegue atingir a plenitude. Pois não?