Dizem que sou maluquinha por séries. E por algumas, sou, admito-o. A minha última obsessão, depois de The Big Bang Theory, que é uma série ligeira, de comédia sobre um grupo de nerds, socialmente estranhos que vivem num mundo paralelo onde A Guerra das Estrelas é uma espécie de religião, se tal fosse possível, uma existência divina sob um ponto de vista físico; como dizia, a minha última obsessão é Mad Men.
Quando comecei a ver, nas férias do Natal a série não me despertou muita atenção, a personagem principal, o Don irritava-me um pouco, e como eram episódios de 45 minutos e o seu género era drama, todos estes factores levaram a um ligeiro desapego à série. Contudo, à medida que ia vendo fui gostando mais, tanto que já vou quase no final da quarta temporada, a última que saiu. Compreendo que não é uma série para toda a gente, ou que todos apreciem ver. Requer atenção e continuidade. Por vezes em alguns diálogos informações são disparadas de rajada de tal maneira que preciso parar a série e pensar no que foi dito, no que já aconteceu e que implicações isso poderá trazer. Outro aspecto que me cativa é o facto de a série não ser óbvia, não há nada que me desanime mais do que eu adivinhar o que vai acontecer a seguir ou o final. No entanto, a série é filmada de modo a obter cenas tão subtis, que provocam um sentimento de desconfiança no espectador que o torna curioso para ver o que se vai passar a seguir.
Para quem não sabe, a série passa-se nos anos 60, e a acção centra-se num director criativo de uma agência de publicidade, Don Draper e todos os enredos que a ele estão ligados. Não sou perita em História nem nada do género, mas os cenários que usam, com tantos pormenores como os produtos de cozinha, o mobiliário, os electrodomésticos, etc. Para além do cenário em si, o guarda-roupa é espectacular, especialmente o feminino, as personagens Betty e a Joan estão sempre assombrosas, e é mesmo retratado na série o cuidado que têm ao cuidar da sua imagem. No que toca ao modo de viver, percebe-se bem que esta é uma época em que os americanos vivem "the american dream", quando há algum transtorno nesse aspecto ficam todos chocados, porque afinal de contas, vivem na América, um sítio civilizado. É curioso também verificar alguns costumes como fumar e beber a toda a hora, incluindo as mulheres, incluindo as grávidas, incluindo os médicos no mesmo consultório que as grávidas... Acho que em 70% das cenas Don Draper está fumando, bebendo ou fazendo sexo, ou uma combinação destas três. Já foi dito que fumam cigarros orgânicos e sem nicotina, acho bem, pela saúde deles. Para além de que o whisky deve ser sumo de maçã.
Há muitos aspectos históricos muito bem inseridos na série, vê-se como afectam as personagens e as suas vidas, é uma outra visão da História. Por exemplo, não fazia ideia que o assassinato de JFK tinha escandalizado tanto a América, enfim são ignorâncias que Mad Men tem vindo a eliminar. Há, também, muitos aspectos sociais abordados, como os direitos dos negros, das mulheres, o aborto, o Vietname, os gays e a sua repressão, etc.
As personagens femininas, pelo menos as principais, Betts, Joan e Peggy (da esquerda para a direita) prendem a minha atenção durante a série. Consigo ver as suas lutas, o sofrimento, o machismo que têm de lidar, mas também a sua tentativa de libertação, a sua irreverência , a sua garra.
Penso que esta série é uma série que corre riscos, há reviravoltas, em que parte do elenco é dispensado, e depois volta a juntar-se depois, mudanças radicais na história... Não é uma série que se acomoda, como outras que a história principal é sempre a mesma, apenas os detalhes vão mudando. Também por isso, por essas mudanças, senti muitos sentimentos contraditórios sobre as personagens. Não há bons nem maus, heróis nem vilões. Apenas há esta série completamente viciante e arrebatadora que nos leva a um mundo de "mad mens" de há cinquenta anos atrás.