O vento soprava um pouco agreste, e o tempo ameaçava chover a qualquer instante. Gostava dessa sensação de frescura na pele, fazia a sentir viva. Viva, que irónico! As pernas imóveis começavam a tremer, estivera assim há demasiado tempo, o cabelo solto parecia-lhe pesado e tapava-lhe um pouco a visão. Não conseguia bem discernir a realidade, ver com nitidez.
Mas ficaria assim mais um pouco. Tinha medo. Tinha receio. Como chegara àquele ponto? Não seria melhor desistir? Precisava pensar, raciocinar sobre o emaranhado de acções confusas e aleatórias que a tinham levado ali.
Porque tinha decidido aquilo? Seria o facto de todos quererem que ela não fizesse aquilo a tivesse empurrado cada vez mais naquela direcção, obstinadamente?
Sabia que era decidida e irremediavelmente obstinada, mas seria a culpada? Não seria aquela sensação angustiante de que nunca vivera a razão? Mas por outro lado, não viver, poderia ser melhor do que a esperava. Não sabia. A ignorância!
Sorriu. A ignorância. A irracionalidade. Talvez fossem essas as maiores condicionantes de... tudo! A aversão à mudança também não ajudava.
Fechou os olhos enquanto sentia mais uma lufada de vento oriundo do norte, com um cheiro a mar, nunca tinha visto o mar, e decidiu não pensar em mais nada, ou pelo menos aquilo a que ela chamava pensar.
Não olhou para baixo antes de saltar. Nunca gostara de alturas. Mas no ar ainda vibrava um grito avassalador e de libertação, que ecoaria por muito tempo.
JERÓNIMO!!!!