Passsava calmamente no corredor da faculdade. As suas pernas deslizavam uma após outra, ok, raio de escrita, enfim, apenas quero fazer sobressair que ele andava calmamente, mas não se assustem ele só tem duas pernas. Continuando, passava no corredor da escola um tanto ou quanto cheio, cotoveladas, pontapés, acidentais, esperava ele, e calor humano. Demasiado calor humano, demasiada intimidade estar a sentir o calor de alguém que não se conhece, pior que não se reconhece como semelhante, não tinha outro remédio senão respirar os outros, passar entre os outros, ter de conviver, não conviver, conviver não, não é esta a palavra, apenas estar ao pé dos outros, ter de falar com eles quando as situações a isso obrigavam... Enfim, os Outros.
Estes pensamentos perpassavam-lhe a mente, ou a minha, enquanto ele passava, sim, ele continua a passar. Interessante como na escrita podemos definir um momento simples e fugaz como quase persistente, eterno, ah! éfemeras ilusões!.
Iria ter outra aula, desta vez numa sala mais pequena, mas ainda teria um intervalo de meia hora, e já no bar da escola, perguntava-se onde iria ficar durante este tempo todo. Não queria ficar ali, obviamente, nem iria esperar à porta da sala. A solução pareceu-lhe ir até à rua e vaguear nas ruas estreitas e sujas daquela cidade minúscula, mas surpreendentemente sobrepovoada e arrogante, onde os seus sítios preferidos eram os mais escuros, sujos e húmidos. Sim não deixava de ser um réptil humanizado, repelente e nojento para algumas pessoas, assustador para outras, isto para aquelas que o consideravam um réptil digno de tais sentimentos, na maioria das vezes era simplesmente um ponto negro na selva amazónica da cidade e da escola.
Ok, se calhar estava a exagerar, mas que importava isso, era assim que era a sua situação naquele momento, melhor era como ele a via, a projectava, como se ele fosse um expectador alheio a todo um filme estúpido cujo orçamento não passasse algumas centenas de euros. Assim sendo, continuou a passar naquelas ruas sujas e lamacentas até que se encontrou numa extremidade da cidade. Nunca antes lá havia estado. Eram três da tarde, provavelmente, e o sol batia-lhe nos olhos, o cabrão, queria ver o que lá havia, a sua curiosidade era das suas melhores características, pensava ele. Um ermo ali plantado generosamente na periferia da pequena urbe, tinha algumas plantas infestantes como seria de esperar, mas mais não conseguia visualizar, a sua miopia nem sempre era uma benção... Tirou a mochila das costas para tirar os óculos da sua algibeira.
*
Estava cheio de lama. E ainda sem os óculos. Não tinha mala, nem carteira, nem nada. E estava de novo à porta da escola, pela posição do sol diria que eram quase sete, ok sabia lá que horas eram, mas gostaria de poder sabê-las ao olhar para o sol. Nem verificou se estava bem ou se estava a ser observado ou o que quer que seja. Apenas sentou-se ali numa soleta de uma porta e limitou-se a ver o anoitecer a chegar.
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