O dia parecia normal, prazeroso até se admirassem o tempo quente e o céu limpo. Parecia igual a todos os outros, contudo sabia que não seria assim, tinha algo marcado nesse dia, um duelo que teria de travar contra a própria Natureza, e aquele que se dizia o seu Mestre, o seu Restaurador. O tempo seria contado até a essa hora fatídica, e sabia que seria memorável, mas não tinha ainda bem a noção do que aconteceria.
Apreciou a sua última refeição num café de esquina, mastigando-a sofregamente e contemplando o mundo inocentemente, pois depois de tudo estar terminado sabia que se o veria outra vez, seria de uma perspectiva negativista.Confiante de si, na sua vitória encaminhou-se para o local marcado, e quando o relógio bateu as seis horas tocou à porta, onde a assistente do seu oponente o recebeu com um sorriso. Limitou-se a um breve esboçar de simpatia, não iria demonstrar já fraqueza numa altura tão precoce.
"Pode entrar" disse afectadamente a assistente.
O coração batia descompassadamente numa arritmia ridícula e os seus músculos retesaram-se de algum nervosismo.
Ali estava ele o seu oponente, que o convidou a tomar o seu lugar, numa atitude também simpática. Não passa de disfarce, foi esse o seu pensamento, enquanto tomava o seu lugar. Mal se sentou o seu oponente começou a relatar o assunto que o levava ali. Ia protestar quando ele o atingiu, de uma forma tão impetuosa que o deixou sem poder falar. O seu queixo estava dormente, o lábio inchado e a sangrar, e não se conseguia levantar. Tinha sido preso, sem qualquer tentativa de se defender, que batalha tão inglória a que teria de combater! Uma luz foi-lhe direccionada aos olhos, nada conseguia enxergar inicialmente, contudo após um momento conseguiu distinguir duas silhuetas dobradas sobre si, eram a assistente e o seu Mestre! O Mestre continuava implacável, cada vez sentia menos a boca e num instante virou-se e pegou no seu instrumento de tortura utilizando sem qualquer ressentimento. O ar ficou saturado de um cheiro a cabelo queimado, se bem que não era cabelo que ele queimava! Enquanto isso ia sempre falando-lhe, numa voz enganadoramente melodiosa.
Os instrumentos passavam da mão da assistente para a do Mestre, depois na sua direcção numa velocidade incrível, fechou os olhos enquanto o massacre continuava. O tempo parecia não avançar, o Mestre trocava de técnica sempre que não encontrava o que pretendia...
Num dado momento, sentiu-se encolerizado subitamente com toda a situação, libertou-se das mãos da assistente e do Mestre e aplicou-lhes a mesma substância inicial com a qual tinha sido injectado, e aplicou-lhes uma grande quantidade. Caíram os dois redondos no chão. Aproximou-se do Mestre e deu-lhe uns quantos pontapés, recusava-se a usar os seus instrumentos perniciosos.
Exibiu um sorriso de satisfação, embora este estivesse transfigurado pelo sangue e pelo lábio tumescente. Não perdeu um segundo, agarrou no dente que o dentista tinha retirado e correu desvariado pelo corredor do consultório fora. Haveria de arranjar uma forma de o colocar lá!!
E isto meus amigos, é um "conto" muito estranho acerca d"O Massacre no Dentista"!