Hoje é feriado regional aqui nestes calhaus. Desde 1980 que assim o é. Declarado com o dia dos Açores, o dia de hoje ser não só para mostrar e afirmar a açorianidade, como também para marcar um dia religioso, a segunda-feira do bodo, ou do Espírito Santo, como lhe quiserem chamar.
Há quem este dia apenas represente apenas o fervor religioso destas gentes, para outros um dia de tourada (que não fui), para outros é simplesmente um dia de descanso para ficar em casa, e há quem ainda, felizmente encare este dia com o devido respeito, que vá até ao fundo da sua consciência e pense no que são estas ilhotas espalhadas no imenso oceano Atlântico, nas suas gentes, no que fazemos, as nossas tradições centenárias, o modo como as deturpamos... Não pretendo ser moralista, seria extremamente errado da minha parte, não é que não goste de pertencer aqui, a esta gente, pelo contrário tenho muito orgulho. Mas acho que sou um tipo de açoriana que já não existe. Sinto-me um misto de passado e presente, e consequentemente futuro, tenho provavelmente os mesmos gostos que a minha bisavó, quase minha sósia, tinha. Tenho saudades do que nunca vi, de ver as casas típicas, baixas, ao comprido, com muros e degraus de cantaria, de ver os jovens a trocar sinais na missa combinando um encontro para depois à noite, no meio dos cerrados de milho, onde se pudessem expressar, de ver a alegria com as coisas simples da vida, a multidão que se juntava para ver as pessoas a dançar, a roupa tosca, mas limpa e bem tratada, o gemer da viola da terra entre as mãos calejadas de um velhote sábio que mora ao lado da igreja... De correr pelos caminhos, descalças, com o vento a bater na cara, e tentando saltar por cima das silvas, se bem que nem sempre conseguindo... de uns Açores que em parte já passaram, e não voltam. Sentimentalista? Talvez. Vou mudar? No que depender de mim não.
Enquanto me ainda proporcionarem tirar fotos como esta, estarei bem (sim eu tenho a mania de tirar fotos a torto e a direito), em que o céu parece se consumir por um fogo invisível, também eu continuarei a ver essas imagens na minha mente, que gostaria de ter vivido e experimentado.