Gosto de pensar que o que escrevo no blog não sou eu, não é pessoal, faz-me sentir imune, uma observadora estranha, daquelas que nos fita fixamente com os seus olhos grandes e estrábicos, pois nunca temos a certeza que está a olhar fixamente para nós. A ficção distancia-me da realidade, whatever that is.
Contudo existem episódios reais que merecem ser contados, pois eu nunca conseguiria imaginá-los, colocá-los na sua posição correcta, encadeado, como uma trança de cebolas que a minha avó costuma fazer sentada num banquinho de madeira, cobrindo as suas pernas com algumas varizes pelas cebolas alaranjadas, manuseando-as com destreza e rigidez, a precisão da sabedoria. Não conseguiria, jamais.
Já consigo sentir a baba espumosa dos leitores a escorrer pelo teclado, sim pelo teclado, ainda não sou computadorizada, ainda, mas quando me lêem, a mim não, ao que escrevo, e no entanto a mim, é como se eu incorporasse o computador, como se fosse eu a falar aquilo que os olhos falam , como se as letras fossem o mover dos meus lábios, e a pontuação a expressão desastrada que tentaria dar ao meu discurso.
Guardem essa preciosa baba, pois os acontecimentos que vou relatar são de uma estranheza tal, que o seu interesse desvanece.
Primeiro acontecimento. Um indivíduo a mijar na rua. Nada de ordinário. O pessoal mija nos cantos a toda a hora. Coisa estranha, o senhor de meia idade, aparentemente normal estava a fazê-lo no meio do caminho, eu por acaso vi o caso. O senhor terminou o seu assunto e continuou a sua viagem descansado, como se nada fosse.
Segundo acontecimento. Manada de homens/rapazes, sim eram mais rapazes da marina, ou lá o que é aquela seita militar, daqueles que usam uma boina esquisita com um lacinho, roupa azul escura com algumas riscas vermelhas. Do tipo marinheiro dos filmes antigos? Tal e qual. Não falo de uma pessoa assim vestida, falo de várias, a sair do metro. Parecia uma enxurrada de déjà vu, uma psicose grave qualquer, uma falha no matrix, parecia o Carnaval da Madeira antecipado, parecia uma partida global feita para me fazer figura de parva. Esperem, não era só uma (que palavra usarei para não dizer convenção social estúpida, digo demasiadas vezes isso...) ... que dita que os marinheiros ou lá o que eles sejam se vistam de uma maneira igual, pré concebida, irracional e despropositada...
Não percam os próximos episódios desta saga!